As guerras entre o Ocidente e o
Oriente estão na origem da ideia de Europa, no entanto estamos
perante conceitos muito imprecisos. 1.
O conceito de Ocidente está ligado à formação da identidade Europeia que
foi gerada em dois momentos fundamentais: a)
O primeiro ocorreu logo após a queda do Império Romano (século IV). Os povos
que existiam neste vasto território que é hoje a Europa produziram um discurso
que reforçava a sua superioridade cultural sobre os seus dominadores ( os
bárbaros vindos do Oriente ). Evocaram as suas origens gregas e romanas,
procuram mostrar a superioridade da sua nova religião - o cristianismo. Após
inúmeras matanças, os bárbaros foram convertidos ao cristianismo e a Ideia de
Europa começou finalmente a impor-se. b)
O segundo momento ocorreu com as invasões muçulmanas da Europa. O terror
do Islão - os infiéis - uniu os povos e indivíduos cristianizados. Entre os
séculos VIII-XII forja-se um discurso ideológico dos valores cristão
(ocidentais) por oposição aos muçulmanos (orientais). As matanças que se
seguiram tiveram um ponto alto, em 1492, quando o último reino islâmico caí
na Península Ibérica. Enquanto isso acontece, na Europa do Leste a lutas
contra os muçulmanos prosseguem.
Matanças
Os Orientais foram sempre para os europeus (ocidentais) o inimigo a
abater: Quando as guerras acalmavam com os orientais, os europeus não tardavam a entreterem-se a matarem-se entre si.
A História da Europa está repleta de enormes matanças e de assassinos
elevados à categoria de heróis nacionais, como Napoleão Bonaparte. |
2.
O conceito
de Ocidente e de Oriente ganha um novo sentido quando os portugueses resolvem
invadir o Norte de África para derrotarem os muçulmanas (1415). Depois disso
prosseguem este combate por toda a África, avançam a partir de 1498 pelo Oriente.
Em nome do Ocidente afirmam os seus propósitos guerreiros - ocidentalizar o
mundo. Em 1510, na célebre batalha de Diu, ao derrotarem os otomanos marcam
pela primeira vez a superioridade militar dos europeus fora da Europa. O
Ocidente e o Oriente passam um novo significado. a)
O Ocidente identifica-se com os cristianismo, mas não renega as suas raízes
gregas e romanas. Afirma-se como uma civilização universal que não rejeita a
força das armas para impôr uma religião e uma cultura. Camões, em Os
Lusíadas (1580) apresenta este programa ocidental e em nome dos ocidentais.
Nenhum navegador português tinha qualquer dúvida que este era o
objectivo. b)
O Oriente deixa de ser identificado apenas com os territórios dominados pelos
muçulmanos. O Oriente apresenta-se no século XVI como um conceito muito vasto
e complexo. Os indianos, chineses, japoneses apresentam civilizações cujo
domínio dificilmente será conseguido pelos ocidentais. Fernão Mendes Pinto,
na Peregrinação, será um dos primeiros ocidentais a questionar a
própria possibilidade de converter os chineses e os japoneses ao cristianismo,
sem o qual não haveria verdadeiro domínio dos ocidentais. O Oriente torna-se
numa espaço de luta, onde os ocidentais (portugueses) procuram difundir os seus
valores. 3.
A
superioridade militar dos ocidentais, sobretudo a partir do século XVIII
esvaziou a ameaça muçulmana. A Europa do Leste foi-se libertando do domínio
Otomano. A França até então confinada à Europa começa a transformar os
reinos muçulmanos do Norte de África em colónias dominadas por cristãos. As
conversões ao cristianismo são residuais, mas as guerras e humilhações são
enormes. O Ocidente
(Europa) ganha plena consciência da sua superioridade militar no mundo e
volta assumir a missão de ocidentalizar o Oriente. Na nova linguagem da
guerra, ser oriental é sinónimo de ser mentecapto, atrasado, mas exótico. Ser
ocidental é sinónimo civilizado e sábio. A armada Inglesa volta
assume a liderança de um processo iniciado séculos antes pelos portugueses. Na
India, China ou no Japão os ocidentais pouco mais conseguem novos mercados e
novas guerras. Muitos hábitos e costumes passam a ser ocidentais, mas o
fundamental em termos culturais tem outra matriz. 4.
Onde os ocidentais conseguiram maior sucesso foi nas regiões mais despovoadas,
como a Austrália, Canadá e Nova Zelândia onde os europeus se estabeleceram e criaram novas Europas. O
sucesso da colonização espanhola na América teve um elevado preço - o
massacre de povos e a eliminação de culturas. Incas, Maias, Olmecas,
Azetecas e muitos outros povos com culturas milenares foram eliminados da face
da terra. O extermínio foi total. Os actuais descendentes destes povos pouco ou
nada têm a ver com os seus antepassados, a não ser alguns traços físicos.
Sorte idêntica acabaram por ter também os indios da América do Norte. A
criação da civilização ocidental teve para muitos destes povos indigenas um elevado
preço. 5. No
início de um novo milénio volta-se a falar dos mesmos conflitos entre as
civilizações que persistiram durante séculos. Com excepção do Ocidente e da
civilização muçulmana, as restantes (chinesa, russa, japonesa) desde o século XVI que pouco alteraram
os seus espaços territoriais. Existem contudo algumas diferenças
significativas em relação ao passado. Se o Ocidente
continua a ter o domínio militar, tem cada vez menos a argumentos a nível
global. Estamos a assistir a um crescente recuo da sua população, mas também
do cristianismo. Dois dos pilares que durante séculos garantiram a supremacia
ocidental. A Oriente, pelo contrário, assistimos à emergência das suas
civilizações fruto do aumento demográfico, mas também da sua pujança
económica. Mao
Tsé-toung, um dos últimos imperadores (comunistas) da China. Embora
em declínio, os ocidentais souberam construir e impor a nível mundial um
conjunto de princípios e valores que regulam as relações entre os Estados e
os direitos dos indivíduos. As regras do jogo foram definidas por eles. O
problema é que os povos não ocidentalizados
dificilmente aceitam estes princípios e valores como universais, antes os
encaram como mecanismos de sujeição e opressão dos ocidentais.
Ocidentalismo e
Orientalismo
Os ocidentais
elaboraram uma versão negativa de si mesmos. Descreviam-se como
materialistas, superficiais, ateus, destituídos de sentimentos,
guiando-se apenas pela lógica, o cálculo. Apenas lhes interessava o
presente, desprezando a história, as tradições ancestrais.
Os orientais
eram descritos como autênticos, emocionais, religiosos, prezando o valor
da história e das tradições.
Estes retratos
esteriótipados acabaram por ser assimilados pelos próprios orientais,
que os usam hoje em dia para combaterem os ocidentais. |
As desconfianças
ente os povos de civilizações sempre existiram, mas mão tem parado de
aumentar após a sucessivas ondas de terrorismo que tem abalado o
mundo. A luta pelos recursos energéticos ameaça nos próximos anos
incendiar o mundo. O cenário que se perspectiva é pouco optimista quanto à
paz entre os Ocidentais e os Orientais. Será que o
passado de guerras está de volta ? |