Carlos Fontes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pobreza e Fome no Mundo

 

As profundas desigualdades na distribuição da riqueza no mundo atingiram actualmente proporções verdadeiramente chocantes. 

O número de pobres não pára de crescer e já chega a 307 milhões de pessoas no mundo. Relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) recentemente publicado mostra que nos últimos 30 anos o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,00 duplicou nos países menos desenvolvidos.

Para a agência da ONU, o dado mais preocupante é a tendência de que esse número aumente até 2015, quando os países menos desenvolvidos poderão passar a ter 420 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.

Em algumas regiões, principalmente na África, parte da população já tem um consumo diário de apenas 57 centavos de dólares, enquanto um cidadão suíço gasta por dia US$ 61,9. Nos anos 70 cerca de  56% da população africana vivia  com menos de US$ 1,00, hoje este valor é de 65%.A pobreza está a aumentar, em vez de diminuir. (Junho de 2002)  

As ajudas dos países mais ricos aos mais pobres são uma gota de água no Oceano, cifrando-se 0,22 por cento do seu PIB. O mais grave é todavia os subsídios que atribuem às suas empresas para exportarem e barreiras comerciais que levam aos produtos oriundos dos países mais pobres. O desequilíbrio de meios sufoca completamente as economias mais pobres. (Banco Mundial,Abril de 2003)..

 

Fome

Calcula-se que 815 milhões, em todo o mundo sejam vítimas crónica ou grave subnutrição, a maior parte das quais  são mulheres e crianças dos países em vias de desenvolvimento.

O flagelo da fome atinge 777 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, 27 milhões nos países em transição (na ex-União Soviética) e 11 milhões nos países desenvolvidos.


A subnutrição crónica, quando não conduz apenas à morte física, mas implica frequentemente uma mutilação grave, nomeadamente a falta de desenvolvimento das células cerebrais nos bebés, e cegueira por falta de vitamina A. Todos os anos, dezenas de milhões de mães gravemente subnutridas dão à luz dezenas de milhões de bebés igualmente ameaçados. (Junho de 2002).

 

África

Devastada por secas e cheias, mas sobretudo por guerras civis (entre 30 e 40 no final do século XX), todo o continente africano parece ter mergulhado no abismo. Terminados os conflitos o terror não termina nas zonas rurais, onde a presença de minas e de munições não explodidas constitui uma ameaça permanente à reconstrução das comunidades rurais.

Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quénia, Uganda e Djibuti a fome que há muito mata nestes países milhões de africanos, já deixou de ser notícia na imprensa internacional. Entre as principais causas desta mortandade está a seca, as guerras e a permamente instabilidade política e religiosa na região.

Zambia, cerca de quatro milhões de pessoas (numa população de dez milhões) foi afectada pela seca que destrui, este ano, parte das suas colheitas. A situação está a tornar-se rapidamente catastrófica. (Dados de 2002)

Na África austral, existem presentemente 10 milhões de mulheres, homens e crianças a conhecer formas extremas do flagelo da fome. Malawi, Zimbabwe, Lesotho e a Swazilândia são alguns dos países mais afectados. Malawi, enfrenta seca e a pior fome nos últimos 50 anos. Segundo o governo, 70% da população de 11 milhões passa fome. 

Em Moçambique e Angola (apesar de ter terminado a guerra), a situação é reconhecidamente trágica.(Junho de 2002)

As perspectivas de desenvolvimento para este continente são pouco animadoras. Na África sub-sahariana, o número de pobres pode aumentar de 315 milhões em 1999 para 404 milhões em 2015, afectando perto de metade da população da região (Banco Mundial, Abril de 2003). 

 

América Latina

54 milhões de pessoas passam fome na América Latina e Caraíbas, segundo o director-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). 

Na América do Sul registou-se uma redução do número de pessoas subnutridas, que passou de 42 milhões para 33 milhões, mas na América Central houve um aumento de 17 a 19% e nas Caraíbas de 26 a 28%.

As crises económicas na Argentina e Brasil fizeram regredir vastas regiões, alastrando a fome.

O director-geral da FAO afirma que apesar da importância estratégica da agricultura para combater esta situação, nos últimos 10 anos o crescimento do sector agrícola no continente foi fraco, alcançando apenas 2,7% no ano 2000. Um dos factores que impede o crescimento da mesma, deve-se à concorrência dos países mais desenvolvidos, cuja agricultura é fortemente subsidiada pelos respectivos estados.

211 milhões de latino-americanos e caribenhos vivem abaixo da linha de pobreza, com um aumento de 11 milhões desde 1990. (Junho de 2002).

As perspectivas futuras continuam a ser pouco risonhas para toda a América Latina. Os efeitos da globalização far-se-ão sentir por muito tempo, nomeadamente através de continuas crises económicas. As suas frágeis economias estão hoje à mercê das empresas dos países mais ricos. 

 

Ásia

A situação é particularmente dramática no Afeganistão, onde cinco a dez milhões de pessoas estão ameaçadas de fome, mas também muito grave na Coreia do Norte, Mongólia, Arménia, Geórgia e Tajiquistão, etc.(Dados de 2002).

 

Médio Oriente

No Médio Oriente as projecções do Banco Mundial são também pouco animadoras para esta região, a situação é dramática na Palestina e no Iraque.O número de pobres irá disparar, estimulando o crescimento de conflitos sociais (Banco Mundial, Abril de 2003). 

A intervenção dos EUA no Iraque (Abril de 2003), para além das vítimas que já produziu, agravou ainda mais esta tragédia.

 

Utopias

Oficialmente as utopias estão mortas, mas a realidade que as alimentou e justificou durante séculos continua bem viva. As desigualdades em todo o mundo, desde o "triunfo" do liberalismo nos anos oitenta, são cada vez maiores. O esbanjamento de recursos nos países mais ricos está a conduzir a humanidade para a sua própria extinção. Como refere Peter Singer, bastava que nestes países, se deixassem de alimentar os animais domésticos à base de cereais e de soja, e estes alimentos fossem distribuídos pelos necessitados, para se pôr fim à fome no mundo.

 

 

Solidariedade

Centenas de milhões de pobres e famintos em todo o mundo apelam à solidariedade de todos aqueles que se afogam no consumismo e no desperdício. Mas será que a solidariedade é entendível por todos? Não !. 

 Muitos habitantes deste planeta ainda pensam segundo o paradigma de antigos negreiros, o Outro só existe enquanto for útil, servir para alguma coisa. Não lhes reconhecem a dignidade de pessoas. As relações entre os povos são vistas em termos de exploração, saque, rapina. A solidariedade é uma palavra que não consta no seu léxico. 

Os argumentos do negreiro, para não ajudar o Outro são quase sempre os mesmos. Alega frequentemente que não pode fazer porque ainda não tem todos os seus problemas domésticos resolvidos. Não tem a casa ou o automóvel dos seus sonhos, as férias que há muito deseja. A solidariedade do negreiro reduz-se em dar ao Outro (preto,pobre, etc) os sobejos, os desperdícios do festim. Os pobres não necessitam de mais, contentam-se com as sobras. A sua preocupação está centrada na ementa do festim, não nos restos. 

Muitos pensam segundo o paradigma capitalista, o Outro é parte de um negócio a curto prazo (Toma Lá da Cá), a médio prazo ( Toma lá, e quando tiveres condições para isso retribui com juros) ou no longo prazo (Toma lá e diz a outros que foi eu que te dei). 

Na verdade, continuam a haver muitos poucos utópicos neste planeta. Aqueles que conseguem ver no Outro uma pessoa que co-habita no mesmo mundo e sobretudo, são capazes de entender que se ele estiver mal, então todos também estamos.

 

Imagine

Imagine um mundo onde o agricultor têm que pagar, todos os anos, direitos de autor  pelas sementes geneticamente modificadas que planta, o mesmo sucedendo ao criador de animais que foram geneticamente manipulados.
Imagine agora que estas plantas e estes animais são os únicos que conseguem resistir a pragas e doenças que entretanto surgiram.

Imagine o mundo onde isto acontece?

Imagine também onde se localizam  os laboratórios que  produzem estas plantas,estes animais, e os remédios para combater as novas doenças que se manifestam nestas plantas e animais?

 
 
 

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